segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Esse choro engolido um dia te mata. Me advertiu um sábio. Como era sábio! É só um copo de veneno que se toma aos poucos. Molham os lábios no liquido letal, move-se a lingua saxualmente por entre eles e pronto. A dose. Mais uma dose. E quando der por si, estará cheio de doses, de dores, de feridas. Mas morto, não. Suicidar-se-á pela falta de fome hoje, a indisposição amanhã. E não haverá Sol que brilhe. Todos os dias são nublados. E as nuvens? Ah, as nuvens que outrora tanto te encantaram agora não passam de um amontoado de H2O condensado. Mas morto, não. Continuará de pé, trabalhando, rindo, dormindo, acordando. Quem liga se já não há mais nada mesmo dentro de você?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dentre todos os sorrisos, era o seu que eu procurava. Dentre todas as felicitações, era a sua que eu esperava. Dentre todos os presentes, era você que eu queria. Dentre toda alegria, na sua ausência encontrei a tristeza de ver que não faz nada do que me diz, que promete o vazio, que me quebra repetidas vezes sempre que acredito que me reconstrui para sempre. Ainda assim, se quer saber, foi um felicíssimo aniversário. Bem vinda aos 18 anos.

domingo, 27 de setembro de 2009

Liberdade e Primavera

Abri as mãos e, incrivelmente, as borboletas voaram. Não por dor, lágrimas irrigaram meu rosto até despencarem ao chão, no qual flores nasceram. Ensurdeci para tudo aquilo que não fosse o ruflar daqueles insetos alados, o cantar do vento entre as folhas, ou a terra remexida pelo riacho. Ceguei para tudo aquilo que não fosse cor de frutas maduras, pássaros indo ao encontro do sol, ondas apaixonadas pela areia. Perdi o olfato para tudo o que não fosse brisa úmida e salgada, terra molhada, cabelos ao ar. Deixei de degustar tudo o que não fosse corpo, que não viesse d'alma, que não fizesse amor com meu paladar. E não mais toco nada que não seja pele quente, sorriso ardente, que não me envolva plenamente em um manto sagrado e, tão controversamente, carnal. Quando abri minhas mãos, libertei-te de mim. Libertei-me de ti. E tive a doce surpresa ao descobrir que estavamos ligados por um elo que jamais sequer poderiamos explicar. Não adianta desejar que outros ouçam, vejam, cheirem, degustem ou toquem o que pertence apenas a nós dois. Jamais saberão que o que falo de fato existiu. Mas eu simplesmente sei. Simplesmente sinto. Ao impulsionar teu voo, dei-me o maior presente que poderia ter. A certeza que pertencemos um ao outro e que isso independe de nós. Por hoje, não me importa quem dorme ao teu lado. Por hoje, sinto que posso ser de quem eu quiser. Porque, ainda que só por hoje, sei que estamos apenas migrando rumo ao destino. E meu destino és tu. Não preciso ter certezas, não preciso de racionalidade, não preciso equacionar o amor. Ele existe. Nós existimos. O amanhã é o infinito a ser desvendado. E entrego-me às minhas aventuras orando para que novamente, em um futuro doce, voltemos a nos cruzar. Tempo ao tempo. Pois tudo há de acontecer como deve ser. E, finalmente, mesmo que apenas por hoje, estou certa de que nossas almas se completaram no dia exato enquanto nossos corpos um dia hão de se completar. Deus jamais permitirá que eu me perca de ti.
Descobri na liberdade, meu amor, que ainda te espero em cada noite de luar. Amar, amar, amar. Eu não preciso que outros aprovem ou deixem de aprovar. Mesmo quando te encontras com outras, por tolice, talvez até ingenuidade, eu sei, meu bem, que ainda estamos a nos procurar. O destino há de nos trazer aos braços um do outro, mais uma vez. Desta vez, para sempre.
Te amo. E creio que jamais deixarei de te amar.

domingo, 20 de setembro de 2009

vidro.

-Enche o copo, velho!
Eu disse, já meio zonza, sentindo o sangue vibrar enérgico, inundando minhas veias com algo que imaginei parecer a sensação de estar viva.
-Enche logo essa porra de copo, velho!
Confesso, o gosto enjoativo daquele vinho ruim era quase intragável...quase. Ainda assim ele escorria garganta abaixo. Acendia brasas em meu estômago.
-Outro?
O velho olhou-me desconfiado. Adivinhei seus pensamentos e imediatamente despejei algumas moedas no balcão.
-É, outro.
Ele recolheu os metais circulares, tão valiosos neste mundo, e logo em seguida o som do àlcool chocando-se no fundo do copo inundou meus ouvidos. Aos poucos me afastava das conversas de bar, dos flertes de boteco, daquelas luzes baixas deprimentes. Aos poucos não ligava mais para as mesas e cadeiras de plástico decoradas com logotipos de cerveja, nem prestava atenção na falta de higiene daquela louça toda empilhada em uma pia semi-a-mostra logo atrás do balcão. O relógio e os nomes das bebidas socadas em uma prateleira curta na parede tornaram-se ilegíveis.

E eu tragava o intragável, como sempre na vida!

Tragava o intragável.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Repetição

Algumas vezes, quando a noite esfria e eu não consigo mais dormir, flagro-me sentada na ponta da cama, agarrada aos joelhos dobrados como se aquilo evitasse que até minha alma me abandonasse ali sozinha. Enquanto as lágrimas escorrem, eu rezo para o telefone tocar e clarear o quarto, torço para ser sua voz do outro lado da linha iluminando minha noite sem lua.
No entanto, não há ninguém discando meu número agora. E eu não faço idéia de onde você foi ou o que está fazendo. Afogo em mim mesma outra vez. Sufoco no mar vazio que há em mim e espero... espero desesperadamente a sua volta. Deixo qualquer ponta de esperança apossar-me, eu preciso viver para... Para que afinal eu preciso permanecer viva? Se você não precisa de mim, então nada mais faz sentido. Eu vou apenas cantar para mim mesma outra vez, chorar outra noite e, no dia seguinte, limpar as lágrimas e acordar. Algum dia eu ficarei bem.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Prelúdio do em vão

O céu cinza era apenas o prelúdio do meu dia estendendo-se acima de mim. Eu caminho todos os dias sob o céu, em passos orientados já não sei mais por quem. Pensamentos perdidos esvoaçando enquanto meu corpo já não fornece mais resistência às pancadas das ondas que marejam em meus olhos.
Indecifrável entre milhares de sombras que trombam diariamente comigo. Às vezes eu ainda me impressiono ao notar que nem mesmo as dezena de pessoas que se considerariam 'mais próximas' percebem meu estado de espírito. Eu disse perceber? Perdão, eu quis dizer aceitar. Vasculham minhas expressões, reprimindo aquelas não desejáveis. "Seja mais simpática", "sorria", " por que está olhando deste jeito?!", "Eu reconheço que esta mais quieta hoje", "não desconte nos outros, você tem que continuar falante".
E eu visto novamente o personagem que todos querem ver. Ah, doce palhaço de circo. Eterno bobo da corte fadado a divertir os outros com sua sagacidade não compreendida. Só em sua inteligência.
No fundo todos me lançam olhares;

"Lá está a estranha sem coração.
Quem se importa? É só uma estranha sem coração.
Seus sentimentos existem em vão."

E eu retruco aos berros aguniados com a angústia que ainda há em mim;

"Se esta aqui é uma estranha sem coração.
É porque todos os seus sentimentos foram sofridos em vão.
Meu coração foi arrancado à mão."

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Partituras

Foi num rompante que percebi ao que estava fadada. E talvez somente eu estivesse. Olhei ao meu redor, escutei batidas como nunca! Mergulhei em mim. Descompasso. Sim, eu sou descompasso. Em um mundo em que corações desajustados buscam outros igualmente desajustados para dividir o mesmo compasso, eu sou descompassada.Meus batimentos cardíacos compuseram uma partitura única e desacredito que haja outro capaz de bater no mesmo ritmo, ao mesmo som.
Me disseram que dois corações tem que palpitar juntos para ser amor. Recuso! Recuso e recuso a ajustar-me a outro coração.Não me peça para palpitar seu ritmo. Eu não quero ser ritmo. Formei-me em descompasso, tornei-me descompasso. Se compassar-me a outrém, o que será de mim? Se de repente ouvisse a mesma melodia tão conhecida, encantaria-me por ela? Creio que por instantes eu estaria fascinada ao escutar meu som emanando de outro alguém. E nos instantes seguintes, escutaria. De tanto ouvir, conheceria. De tanto conhecer, entediaria. Decorar aquela musica traria a mim a morte do interesse.Eis que afundaria novamente em mim, a procura desesperada de algo inovador e, surpreendentemente, descobriria outro som. A partitura mudara. Aquele já não era mais quem batia junto a mim. Restaria apenas então aventurar-me outra vez no mar de sons. Seria eterna busca, eterna frustração. Barco predestinado a navegar as profundezas do oceano sem jamais encontrar seu porto.
Entretanto, se prosseguisse eu no meu descompasso e a sorte do acaso trouxesse a mim outra vibração harmônica, eis que encheria-me de felicidade! Não, não aquela que fosse idêntica a mim, mas sim a que me completasse! Seriamos eterna música, eterna sinfonia em sons que nunca saberiamos de cor, muito menos salteado. E cada dia que dormisse às margens de seu peito, ouviria novo concerto, fascinaria-me com novas notas. Graves e agudos de todos os jeitos que pudéssemos compor. Afinariamos, sim, nossos corações um ao outro. Mas sem que perdessemos aquilo que há de mais importante em nossa relação; a originalidade de sermos nós mesmos!